B. RAÍZES DA MENSAGEM NO
ANTIGO TESTAMENTO
Quem se proponha a estudar a doutrina bíblica da santidade no Antigo Testamento seguramente ver-se-á frustrado ocasionalmente. A maioria dos estudos sobre o tema deixam muito a desejar quanto à exegese. Muitos exponentes são piedosos, evangélicos e santos na doutrina, mas não possuem as ferramentas técnicas necessárias para a exegese bíblica, especialmente no que se refere a idiomas semíticos. Como resultado, muitas obras que bem poderiam servir como base doutrinal e material persuasivo, são débeis e até erróneas em sua exegése.
Por outro lado, os livros que tratam o tema da santidade no Antigo Testamento baseados em exegése, na sua maioria, carecem de solidez teológica. No geral, os seus autores são críticos ou eruditos liberais que não têm completa e total confiança na integridade e fidelidade das Escrituras. Muitos eruditos se têm deixado influenciar por pressuposições teológicas que os tornam indiferentes aos conceitos espirituais dos autores bíblicos.
1. A Santidade de Deus
A convicção de que Deus é santo e justo é uma das características mais distintivas do Antigo Testamento. Uma breve vista a uma concordância da Bíblia revela que nenhuma outra doutrina é tão importante como a santidade de Deus. Exemplo disso o oferecem as palavras santidade e santificação, as quais são usadas mais de 800 vezes.
Quais são as características distintivas da doutrina da santidade de Deus no Antigo Testamento? O estudante cuidadoso descobrirá prontamente que a santidade não é só um dos diferentes atributos de Deus, mas parte de sua natureza essencial. A santidade é a natureza essencial do Ser divino, da qual emanam os atributos de amor, justiça e misericórdia. Portanto, ninguém pode interessar-se por longo tempo no pensamento bíblico sem confrontar o desafio da santidade.
Tal reconhecimento constitui um apropriado remédio para a idéia contemporânea popular de que, se Deus ainda vive, está muito bem humanizado. Algumas pessoas concebem Deus como um ser mágico e bondoso de quem dispõem à vontade para as ajudar em suas tarefas ou para cumprir os seus desejos. Outros consideram Deus como um ser remoto, distante, demasiado afastado para responder às petições dos miseráveis e finitos seres humanos. Deformam o conceito de intercessão, crendo que a oração só muda o solicitante, não os resultados. Outros ainda, como os auto-nomeados conselheiros de Job, consideram a santidade de Deus tão austera e distante que se torna impossível a santidade no homem e, por isso, qualquer aspiração à mesma resulta presunçosa.
A santidade de Deus não só inclui esplendor e separação, como também justiça. É difícil para nós, depois de tantos séculos de tradição judaico-cristã, pensar em um Deus injusto. Não obstante, na história, inclusive os deuses dos pagãos mais avançados ou civilizados eram em geral seres amorais; a justiça não se relacionava com tais deuses. Este pensamento realça pelo contraste a insistência hebraica de que o Deus a quem eles adoravam é completamente justo. A Sua justiça manifesta-se na história do povo que, quando pecava, era rejeitado e disciplinado. Nem sequer a arca nem o lugar santíssimo escapavam quando o povo punha de lado a justiça. A Bíblia ensina que a santidade é mais importante que a sobrevivência; paradoxalmente, “o sistema” tinha que ser destruido no exílio a fim de salvá-lo por meio do remanescente.
Deus se revela a Si mesmo, não só em palavras, como também por feitos. As suas declarações foram muito claras: “Santos sereis, porque eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo” (Levítico 19:2). De igual modo, os seus actos também foram claros, como quando abandonou o seu povo no deserto por causa do pecado, convidando-o a O buscar fora do acampamento (Êxodo 32 – 34). A Jerusalém foi esclarecido que, ainda que era chamada a cidade santa, encontrava-se pecado nela, Deus repudiaria o templo, a cidade e seus habitantes aos quais traria a juizo (Isaías 4; Jeremias 7). A histórica Jerusalém foi destruída no ano 587-586 A.C. a fim de salvar a cidade santa.
A revelação da santidade de Deus faz uma clara exposição da pecaminosidade do homem. Só depois que Isaías viu “ao Senhor … alto e sublime” e ouviu que os serafins diziam: “Santo, santo, santo” (Isaías 6:1-4), reconheceu sua corrupção interna. O homem descrito em Romanos 7 reconheceu o seu estado pecaminoso só depois que se confrontou com a justiça da lei. Assim é que a santidade revela o que lhe é oposto: o pecado. Com frequência se diz, de modo geral, que no Antigo Testamento o pecado se refere mais à culpa colectiva e se limita a actos visíveis. Não obstante, há muita evidência de que também se refere à perversidade do coração. A afirmação anterior é demonstrada em Génesis, na passagem que relata o pesar de Deus por causa da “maldade dos homens”, que prevalecia na humanidade (6:16). Tal ideia se expressa com maior realce nos escritos proféticos, particularmente nos de Jeremias, que foi impressionado e oprimido pela perversidade crónica do homem, sua contínua tendência para o mal (Jeremias 3:23, 17, 21). Um estudo consciencioso dos termos “dureza de coração”, “maldade”, “perversidade” e outros sinónimos revelará uma fase muito importante da Teologia do Antigo Testamento; neste se reconhece que uma fonte de pecado produz os actos pecaminosos. O problema principal do homem, “um coração de pedra”, soluciona-se unicamente com a implantação de um “novo” coração (Ezequiel 36:25-27).

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