domingo, 23 de agosto de 2009

D. A MENSAGEM NO NOVO TESTAMENTO

O Novo Testamento dá amplo testemunho da possibilidade de uma vida santa neste mundo, pelo que uma interpretação adequada há de começar com a compreensão do que é a santificação ou das classes de santificação a que se refere. O presente é um tratado um pouco breve que visa apenas colocar em perspectiva as questões, em vez de lutar em profundidade com tão importante tema de estudo.

1. Santificação Imputável (ou “posicional”)

A santificação imputável refere-se tanto a pessoas como a objectos ou coisas. A última ilustra-se com o texto seguinte “… a oferta, ou o altar que santifica a oferta…” (Mateus 23:19). A santificação, neste sentido, indica que as ofertas colocadas sobre o altar sagrado já não pertencem àquele que as apresenta, mas a Deus. É santificação por associação, uma justiça “imputada”. Este tipo de santificação pode ser o resultado de um simples contacto físico ou da proximidade.

O mesmo conceito se aplica às pessoas. Neste sentido, no Antigo Testamento, Aarão e seus filhos foram “santificados” para a obra do sacerdócio. Na actualidade, quando um leigo recebe as ordens de presbítero ou ministro do evangelho, recebe uma santidade imputada que antes não possuía. Dedica-se a uma vocação sagrada. Separa-se dos demais e entrega-se ao serviço exclusivo e total do Senhor. Devido a esta separação do secular e sua total dedicação ao serviço de Deus, em certo sentido, torna-se um homem santo profissionalmente. Talvez no intrínseco não seja mais santo do que antes e o seu carácter não se altere. Não se lhe confere nenhuma diferença moral por uma justiça “imputada”. Talvez neste sentido de entrega total a certa tarefa Jesus Cristo disse: “E por eles me santifico a mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade.” E pelo menos neste sentido, o Senhor pediu em oração que os Seus discípulos fossem santificados na verdade (João 17:17-19; 10:36).

2. Santificação Inicial

Aqueles que estão em desacordo com o ponto de vista wesleyano da vida de santidade e sua possibilidade diferem particularmente no que se relaciona com a inteira santificação. A maioria dos eruditos bíblicos concorda que a santificação é ensinada no Novo Testamento como um privilégio ao alcance de cada crente, mas nem todos atribuem o mesmo significado ao termo. Quando o Apóstolo Paulo escreveu às igrejas de Roma e de Corinto, referiu-se a todos como a “santificados em Cristo Jesus, chamados santos” (1 Coríntios 1:2; Romanos 1:7). Esta é a que pode ser chamada santificação inicial, em que se reconhece que a separação do mundo e a entrega a Deus são requisitos prévios da conversão ao cristianismo.

Ao escrever sobre a conversão, Wiley refere-se à santidade “inicial”:

A corrupão acompanha os actos pecaminosos, e o mesmo faz a

culpa, que é a consciência do nosso próprio pecado. Portanto, deve

haver uma limpeza inicial concomitante com a primeira obra da graça,

se esta culpa e a depravação adquirida hão de ser removidas do

pecador.

3. Santificação progressiva

De outro ponto de vista, diz-se que a santificação no Novo Testamento é progressiva. Esta posição harmoniza com a justiça “comunicada”, a qual começa na conversão e continua toda a vida do cristão. Todos os cristãos são santificados no sentido de que se convertem em “participantes da natureza divina” (2 Pedro 1:4). Sua natureza está se “renovando” pelo Espírito Santo; é “regenerado” ou “nasce de novo”. Este é o uso que os escritores e oradores da tradição reformada aplicam normalmente ao termo santificação. É o lado positivo da justificação; refere-se à obra do Espírito Santo que efectua no crente a renovação positiva de sua natureza na semelhança da natureza de Deus. A anterior é referida, por exemplo, em versículos como os seguintes: Actos 20:32; 26:18; 1 Coríntios 6:11; Efésios 5:26; e Hebreus 10:14; 13:12.

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