sexta-feira, 14 de novembro de 2008

De Cá Até Aí

Tenho pensado que a nossa condição humana é, por vezes, digna de dó. Somos um ser basicamente sociável. Não importa se a nossa origem é o norte ou o sul, o leste ou o oeste... o terceiro ou o primeiro mundo... Aonde quer que vamos, criamos o nosso habitat social. Chegamos como estranhos, partimos, mais tarde, deixando um vazio no espírito dos que ficam, levando na alma feridas que resistem ao efeito de bálsamos e confortadores. Como o ramo cortado à árvore "sangra", à partida sofremos pungente dilaceração.
Porque a vida é feita de chegadas e partidas, vão-se-nos acumulando sentimentos contraditórios de aquisição e perda, desejos que se desgastam reciprocamente, o "como é bom estar cá" e desejar estar aí também. Pensamentos cruzam o espaço e, quais ondas de rádio, tornam-se passíveis de levar cavalgada a saudade de cá até aí onde está você, amigo, que nunca mais foi abraçado e também nunca será removido do inventário.
E, se voltasse atrás, à procura da jóia perdida, a mesma triste sina não se arredaria do caminho!
Restará alguma esperança confortadora? Talvez sim. Dar asas à imaginação. Curtir e deixar-se curtir pela saudade. Alongar os braços e atirá-los no vazio ao encontro do invisível, mas real, objecto da afeição, mandar saudades daqui até lá e esperar pelo tempo em que não haverá mais tempo e espaço, nem separação, mas reencontro para não haver mais vazio de alma e desencontros de sentimentos.

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